Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Admiral Dreams

Àquelas madeiras,
quando árvores,
haviam sido
atadas bruxas.

Na floresta sobraram
cinzas e sangue
e palavras impregnadas
ao solo e à casca.

Em seus sonhos ouvem-se
palavras como iskehar,
brofunum. Há neblinas
e fogos fátuos, há
runas e ranger de dentes.

E de tudo isso
cresceu o pinho.

Primogénito do mar,
base da religião,
chave da guerra,
estrutura de cidades.

Transportado por rio,
aparado por machados,
intertravado em cunhas.

Ergueu-se um armazém.
Nele foram pesados
séculos e vidas.

Especiarias, cerâmicas,
tabaco, vinho, ouro,
papagaios, cereais.

Após séculos, um hotel.

No seu quarto,
quatro longas traves.
Ao centro, uma coluna.

Nela me encostei,
o corpo sobre
a verônica de um corpo.

Meus sonhos? Visões
de poderes e de horrores.

A.