Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

À volta de Purity

Após o regozijo e intensidade provocados pela leitura em catadupa de The Corrections e Freedom, apressei-me a querer descobrir outros textos de Jonathan Franzen. Embora com algum desfasamento, nos meses que se seguiram comecei a ler Strong Motion (o romance que antecede em dez anos o lançamento de The Corrections) e How to be alone, uma colecção de ensaios publicada um ano depois de The Corrections.

Apesar da expectativa e entusiasmo que me moviam, não cheguei sequer a meio de nenhum dos dois. Em ambos os casos, o que me levou a desistir da leitura foi a irritação com o autor, que é alguém francamente zangado com o mundo e que assume uma postura explicativa/prescriptiva sobre a realidade, o comportamento das personagens e das pessoas em geral, que é dificilmente suportável por quem não partilha a sua visão.

A este respeito vale muita a pena ver a entrevista que Jonathan Frazen deu à New Yorker o ano passado, onde o autor descreve, no meio de uma conversa muito rica e divertida com o editor da New Yorker, a sua evolução pessoal e autoral.


A evolução descrita pelo autor parece ter abrangido também a sua escrita ensaística, pelo menos a ver pelo texto extraordinário que é Farther Away. Uma peça que mistura de maneira assombrosa a descrição de uma viagem à ilha de Masafuera, a evolução do romance na cultura ocidental, a sua paixão ornitológica, a tensão entre o indivíduo e a vida em comunidade e o suicídio de David Foster Wallace. Imperdível.

D.