É uma sala branca, iluminada tipo galeria, sem entradas nem saídas, mais comprida que larga. Não tenho sombra e não sei se sou bem eu que aqui estou. Consigo tocar-me e ver o meu corpo, todas as extremidades do meu corpo, mas às vezes parece-me que estou incompleto. Não percebo de onde vem esta luz, homogénea, presente, filtrada. Não sei como vim aqui parar mas isso não é importante. Antes disto não me lembro de nada, nem poderia, esta dimensão é nova e novidade. Também não quero sair daqui. Há aqui uma coisa importante, que é minha mas não é só minha. Mais, sendo minha não a conheço.
Às vezes vejo uma forma no centro da sala. Apesar de durar não mais que um instante não é uma dessas visões de canto do olho – vejo-a quando os meus olhos vagueiam, sempre no mesmo ponto mas nem sempre a conseguindo ver. A forma é abstracta ou é-me desconhecida. Concentrei-me até à miopia mas ainda não consegui guardar dela uma imagem clara nem decifrar-lhe a origem. Parece-me que a forma é a coisa.
Alguma ligação existe entre a coisa e as paredes. Quando acreditava que o meu esforço me permitiria alargar o vislumbrar da coisa e concentrava-me a olhar longamente o centro da sala a partir de diferentes cantos tinha, na periferia da visão, a sensação de as paredes perderem matéria. E mesmo depois de abandonar a minha posição, enquanto ia até outro canto para tentar de lá, parecia-me que as paredes estavam menos presentes. Quando abandonei o esforço de tentar ver comecei a reparar em algo diferente. Sempre que aparece a forma as paredes adensam-se, como se eu fosse acabado de chegar e estivesse a olhá-las pela primeira vez. Nunca toquei nas paredes.
Aqui não existe cansaço.
A.