Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

La Collectioneuse

La Collectioneuse, de Éric Rohmer, ilustra, talvez melhor do que qualquer dos outros Contos Morais, a tensão vivida pelo homem moderno entre a leitura da comédia humana e o seu modo de nela tomar parte.

Em certo sentido, Adrien é o contraponto de Jean-Louis, de Ma Nuit Chez Maud. Este reconhece a existência de leis segundo as quais o mundo opera, mas a sua escolha é exterior e imune a toda a análise dessas leis e, por isso, supera a falibilidade de qualquer conjectura. Aquele esboça um plano, porém, o seu plano é contigente, não apenas à encenação dos factos, mas sobretudo à dança irrequieta da sua e das restantes vontades.

A escolha moral, segundo Rohmer, é aquela que não pressupõe uma avaliação dos factos em função de objectivos tenuemente predeterminados. Pelo contráro, a escolha moral é um movimento de liberdade interior que se impõe sobre o mundo exterior; uma aposta que engendra a sua própria parada.


D.