Só tendo um fim e um início o homem se alivia
Não chega a ser preguiça e nunca foi sequer pecado
A aceitação da transitoriedade como imutável
A ideia de destino, de fado, do que deve ser
E do que não pode, nunca, deixar de ser feito
E vamos boiando nessa maré dos dias, das estações e dos anos
Sem leme, vela ou timoneiro que nos levem.
E afinal, ser enlevado porquê, se o fim está lá, está aqui
E o início, esse pobre voluntário que nunca se voluntariou
É nosso para o que der e o que vier e o único que conheceremos
Exceto talvez em uma uníca possível e provável novidade
A geração de um filho - oh benção, oh amor, oh alegria dos dias
Dos avós, tios, padrinhos, amigos e pais, não esqueçamos os pais
Não existe aí uma iniciativa contrária a tudo o que foi dito?
Sim, existe, mas uma iniciativa de outro, pior, de outros
Os ancestrais, esses que já vivem com a gravidade
De um único fim e um único início,
Todos os dois, alheios e íntimos
Pais, oh felizes criaturas do amor, das fraldas e dos ranhos
Que maravilha é esse início por si criado
Pouco menos que um milagre, poder-se-ia dizer
Emoção de olhar e cheirar e pegar
Aquela fantástica carne
Que de vós depende tanto,
Que só com muito amor se educa
E com tanta dedicação se cria
Mas é nessa criaturinha amorosa que vemos,
A infalibilidade de um início nunca sonhado
Que nos exige apenas a primorosa educação que dele fará
Um instrumento de trabalho,
Um cidadão de um país,
Um progenitor dedicado
Essa vida que só tem um fim e um início
Pode ser levada sem muito
Pensa o homem em coisa nenhuma
Na mulher, no trabalho, na chuva
E vive na cidade, no meio dos homems
Sem encontrar ou procurar coisa alguma
Que o leve a algo mais, a uma ideia de si e da sua morte.
Porque a morte, dessa ninguém escapa, nem o rei, nem o bispo e nem o papa
Porque na razão inversa do nascimento, o grande fim, exceto para os suicidas,
É tão estranho como uma maré que, ao fim de se encher e vazar, tantas vezes
De repente
Se esvai
E não enche mais
Poucos morrem abrindo mão da seda da vida
Afortunados os conscientes do fim
Pois deles será a consciência do fim
E são talvez eles, esses poucos, alheios da responsabilidade do início
Mas que têm o nobre trapo na mão, que olham a cidade como um deserto
E nesse olhar se questionam sobre as possibilidades da irrigação,
Do plano, do motor, da fuga, do homícidio e dos mídias em massa
E assim vamos andando de início em fim, pelas gerações fora
Com alguns poucos que
Pela imposição de uma consciência própria de um fim próprio
Conseguem dar à sua vida e à dos outros,
Alguns outros príncípios e alguns outros fins.
A.
Não chega a ser preguiça e nunca foi sequer pecado
A aceitação da transitoriedade como imutável
A ideia de destino, de fado, do que deve ser
E do que não pode, nunca, deixar de ser feito
E vamos boiando nessa maré dos dias, das estações e dos anos
Sem leme, vela ou timoneiro que nos levem.
E afinal, ser enlevado porquê, se o fim está lá, está aqui
E o início, esse pobre voluntário que nunca se voluntariou
É nosso para o que der e o que vier e o único que conheceremos
Exceto talvez em uma uníca possível e provável novidade
A geração de um filho - oh benção, oh amor, oh alegria dos dias
Dos avós, tios, padrinhos, amigos e pais, não esqueçamos os pais
Não existe aí uma iniciativa contrária a tudo o que foi dito?
Sim, existe, mas uma iniciativa de outro, pior, de outros
Os ancestrais, esses que já vivem com a gravidade
De um único fim e um único início,
Todos os dois, alheios e íntimos
Pais, oh felizes criaturas do amor, das fraldas e dos ranhos
Que maravilha é esse início por si criado
Pouco menos que um milagre, poder-se-ia dizer
Emoção de olhar e cheirar e pegar
Aquela fantástica carne
Que de vós depende tanto,
Que só com muito amor se educa
E com tanta dedicação se cria
Mas é nessa criaturinha amorosa que vemos,
A infalibilidade de um início nunca sonhado
Que nos exige apenas a primorosa educação que dele fará
Um instrumento de trabalho,
Um cidadão de um país,
Um progenitor dedicado
Essa vida que só tem um fim e um início
Pode ser levada sem muito
Pensa o homem em coisa nenhuma
Na mulher, no trabalho, na chuva
E vive na cidade, no meio dos homems
Sem encontrar ou procurar coisa alguma
Que o leve a algo mais, a uma ideia de si e da sua morte.
Porque a morte, dessa ninguém escapa, nem o rei, nem o bispo e nem o papa
Porque na razão inversa do nascimento, o grande fim, exceto para os suicidas,
É tão estranho como uma maré que, ao fim de se encher e vazar, tantas vezes
De repente
Se esvai
E não enche mais
Poucos morrem abrindo mão da seda da vida
Afortunados os conscientes do fim
Pois deles será a consciência do fim
E são talvez eles, esses poucos, alheios da responsabilidade do início
Mas que têm o nobre trapo na mão, que olham a cidade como um deserto
E nesse olhar se questionam sobre as possibilidades da irrigação,
Do plano, do motor, da fuga, do homícidio e dos mídias em massa
E assim vamos andando de início em fim, pelas gerações fora
Com alguns poucos que
Pela imposição de uma consciência própria de um fim próprio
Conseguem dar à sua vida e à dos outros,
Alguns outros príncípios e alguns outros fins.
A.