Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Também eles buscavam o azul

A partida de Ílion

Ainda rapazes...

O sol novo da primavera batia
sobre a vigia austera das grevílias
e escura a água assobiava pelo canteiro.

Buscavam a lonjura do lar.
O puro desejo da partida.
Pois disputa não havia.
Nem Briseida que disputar.

Era a ânsia veloz das corridas
Labirínticas na gare de Algés
rumo ao comboio e ao Estoril.

E ao entardecer, pautadas
pela incendiada verdura
Dos pinheiros mansos,
Longas caminhadas em silêncio
Entre a alva calçada e o céu cerúleo.

Antes houvesse Ílion, companheiros.
Uma rapariga chamada Helena.
Combates vários, sangue
deusas e deuses
sobre-humanos suspensos no ar.

Penélope, quem quer que fosse,
que me esperasse na nova alba,
e a prole, distinta, furtiva ao denso pó.

Amplas não eram apenas as portas
nem altas somente as muralhas
eram-no os dias infinitos na planície
e as manhãs junto às naus recurvas.

Escrito em Bristol, no dia 15 de Abril de 2010.

D.