Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Descobrindo Manuel Bandeira

Na prosa de 'Itinerário para Pasárgada', memórias poéticas do autor, descobri inteligência e fino humor. Um homem em controle de sua queda para o sentimentalismo e para a 'pena-de-si'.

Escalei à estante da poesia, procurei e achei '50 Poemas Escolhidos pelo Autor', em edição da CosacNaify.

 - Lê em voz alta, sente o ritmo.


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma,
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação,
Não noutra alma,
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

'Arte de Amar'

A.