Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Panorama

Caro D.,

A propósito de luz... a não perder a exposição 'Gerhard Richter: Panorama'.

Creio que haverá três interpretações distintas da colecção, consoante o espaço (Berlim, Paris, Nova Iorque) e o(a) curador(a) de serviço.

Eu estive em Berlim e não me lembro de alguma vez ter visto semelhante domínio da foto-grafia: usando o léxico de R. Barthes (violentando o significado que particularmente o autor lhe atribui), Richter é um pintor-operator que entrega ao espectador, na tela, um "certificado de presença".

"Isto" - esta luz feita coisa - percorreu-me na manhã do dia 11 de Abril:


Kerze (1982)


T.