Domingo, pouco depois das cinco da tarde, Rio de Janeiro. A fila para a Casa Rosa, nas Laranjeiras, tem umas 50 pessoas. O que se passa lá dentro é samba e feijoada. 20 Reais pelo samba, mais 8 pela feijoada. Feijoada sem samba não dá. É a ressaca do Reveillon.
Ambiente moderninho numa casa e jardim decadentes, em que tudo parece improvisado. Cá fora um telhado de chapa protege a feijoada, que não encontrei, a banda que toca e a galera que dança. Lá dentro, DJ e pista de dança na escuridão, um inferninho clássico, à espera dos mais resistentes e onde rola o que parece ser um after-hours permanente. Há mais salas e muito mais gente.
Ninguém se importa muito com o avanço para mais perto da banda. Cavaquinho, dois pandeiros, um violão e percussão, muita percussão. Quase ninguém bebe. O embalo não deixa. Sorrisos convocam para a dança, toda a gente brinca e festeja apesar, ou por causa, do Domingo. Há uma alegria contagiante que, mais do que alegria, é o exato contrário da melancolia. Não é tão forte que vá desaparecer, parece estar sempre ali, pronta para uma percussão e um sorriso. Imagino que durante a vida normal aquela energia seja escondida algures, sub-cutânea sei lá.
No centro de tudo, a banda. A percussão é deles, quem manda é o cavaquinho, mas o ritmo vem dos tambores. E os percussionistas riem mais do que toda a gente. Eles sabem! Eles acreditam que aquela electricidade de simpatia e embalo, húmida, adulta, lânguida, tropical, é libertada por eles. São eles os sábios detentores dessa combinação de toques sobre a pele que se espalha sobre a pele de toda a gente. E por isso eles tocam para as mulheres. São elas, as mais atentas, que recebendo o impacto do som ampliam a energia da primeira pele na sua própria, arrastando a multidão no seu embalo.
Para mais informações sobre os efeitos benéficos do tambor
A.