Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Dionísiaco, Pós-Moderno, Corpo e Arte

Artigo sobre e entrevista ao fundador do Teatro Oficina


Há alguns meses atrás alguém, num jantar com pessoas do Teatro lisboeta, me falava de um grupo de teatro de São Paulo onde as apresentações desembocavam em orgias. Pensei tratar-se dos Satyros mas parece que estava errado. Parece que é o Oficina. Há muitos meses atrás alguém que tinha o meu coração me falava da possibilidade de vir fazer teatro para aqui e como o Oficina lhe parecia bom.

Li a entrevista ao Zé Celso e aquilo que dele está no artigo. Sobra-me uma sensação de ideias estruturadas, inequívocas, sublimadas.

Ocorre-me que para uma arte moral hoje a abstração pode continuar a ser um caleidoscópio dos sentidos ou um redemoinho de significados. Importa apenas que ela não seja tão complexa ao ponto de exigir uma iniciação prévia nem tão vazia que a fruição do espectador encontre um limite fácil. A grande arte será, hoje, aquela capaz de reciclar uma audiência preconceituosa, orgulhosa, preguiçosa.


A.