Chegar em casa e revirar a biblioteca à procura de um verso que me acalme, de um enredo que me leve, de um ensaio que me faça pensar. Fugir de sentir apenas a intranquilidade do tempo. Aguardar o barulho do ferrolho enquanto a cidade se distende em vermelhos para mais uma noite. Acusar no despertar in-comemorado a síntese do dia. Um refluxo de frustrações não tão antigas, uma impaciência só, de mim próprio, um exigir extração de tempo à rotina para ficar sem saber o que fazer com esses minutos extra. A fruição de ser é um exercício de solidão e persistência. Fixar-me senão nas minuciosas impermanências do humano impacienta-me, desespera-me. Venha então o trabalho extenuante e a sua exigência de ação, sua simplificação da lógica do sentir. Queixar-me-ei é certo, como antes, mas terei de volta a minha ética, único remo que carpintei para navegar a maré dos meus dias.
A.