Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Robin Hood: notas de um sábado à noite

Afinal a rapariga é japonesa (cf. post abaixo "Correm rumores..."). Desafortunadamente, ontem não envergava o seu impecável par de converse all stars azuis e, à semelhança de outras noites, o seu comportamento não permitiu descortinar se estava sozinha ou acompanhada.

Não sei ainda o seu nome, mas ouvi-a cantar (voz e guitarra acústica) uma música dos Cranberries (Linger) que fez muito sucesso em meados dos anos noventa e que, anos mais tarde, a Mega FM conseguiu reduzir a pó graças à sua transmissão ad nauseum. 

Este apetecível momento estético (tem uma voz meiga, um delicado e neutro sotaque e articula as frases como quem conhece aprofundadamente o seu sentido) aconteceu ontem à noite, no que parece ter sido um programado serão de improviso no vosso já adorado Robin Hood.

Um rapaz de óculos (bastante afável para os padrões britânicos) cantou um tema do David Bowie (Ziggy Stardust) que eu só conhecia através da cover em português de Seu Jorge e uma versão algo inexata de Creep, dos Radiohead.

Dada a eficácia alcoólica da Vedett Extra Blond, experimentei uma impressão estética inusitada ao escutar canções do Bob Dylan e, entre outras coisas para crescidos, descobri que também posso ir à bola com David Bowie.

No meio desta nuvem de acontecimentos, houve um tipo (que utilizava o banheiro ao mesmo tempo do que eu) que, após ter observado o meu esgar de satisfação enquanto secava as minhas sedosas mãos no inefável secador (vide imagem à direita), comentou que este aparelho proporcionava algo semelhante a uma experiência religiosa; opinião que de imediato logrou a minha concordância.

Ao caminhar rumo a casa recordei um dos gags mais curiosos do último filme de Woody Allen (Whatever Works); aquele em que o físico Boris canta a si mesmo um Happy Birthday cada vez que lava uma das suas mãos. Tentei estabelecer uma relação de associação com o meu episódio nos lavados do Robin Hood, mas, talvez em razão da exponencial eficácia da Vedett Extra Blond, desisti da empresa perante as primeiras adversidades.

D.