Sobre o Matongé, creio,
poderia eu escrever longamente. Bairro microscópico e anárquico, instalado no
mais interessante retângulo urbano de Bruxelas – aquele que é delimitado a
oeste pela Avenue
du Toison d'Or, a norte pela Rue du Trône, a sul pela Avenue Louise e a este pela Place
Flagey. Neste exíguo urbano convivem
a mais perfeita das praças de Bruxelas (Place Saint Boniface) e o
mais parisiense dos cinemas da capital europeia (Le Vendôme); lado a
lado de um locais que mais sofreu a erosão do ácido úrico (a calçada e o
alcatrão que compõem a esquina entre a Chaussée
du Wavre e a Rue d’Edimbourg) e a
maior concentração de cabeleireiros e salões de beleza africanos. Mas talvez
que o muito que pudesse sobre ele escrever, não mais fosse que um eco do misto
de incómodo e espanto que me assaltam perante o facto de este bairro
concentrar, em ruas paralelas e numa desconcertante sequência, toponímias como
Edimburgo, Nápoles, Londres, Alsácia-Lorena e Dublin. Uma
sequência que sugere uma lógica porventura surpreendente, mas que, ao cruzar a Rue d’Edimbourg, me surge somente como
um inevitável capricho aleatório e sem sentido.
* - Riviéra é o nome de um restaurante africano, sito na Rue d'Edimbourg. Apesar de ter como principais especialidades um modo africano qualquer de cozinhar frango, o Riviéra não dispõe de arca frigorífica. Mesmo nos dias semana está aberto até às três horas da manhã.
D.