Um exemplo deste jaez é a cena de Ma nuit chez Maud, em que, em conversa
com colegas de trabalho, Jean-Louis
diz, num sorriso tranquilo e ingénuo a um tempo: "Oui, je suis catholique". Esta tranquila indicação de pertença
à família católica carrega em si de forma precisa o significado ontológico da
condição católica: uma iluminação, uma certeza interior, dita num misto de
humildade e alegria.
Nos dias que correm, a questão «Et vous, vous êtes catholique?» só
aparece enquanto item dum inquérito sobre comportamentos, a par da inquirição
sobre filiação a um clube, clã ou associação. No entanto, parece-me que o
catolicismo, mesmo nos dias de hoje, continua a ser um marcador ontológico
fundamental.
Conheço imensos católicos...
Se estiverem (como eu
estou) com saudades do João Bénard da Costa, leiam o seu «Nós, Os vencidos do
catolicismo» e fiquem a conhecer um pouco melhor a história do catolicismo nacional do século XX e, sobretudo, daqueles católicos que foram os nossos. Isto vivido na primeira
pessoa e contado com a generosidade inesgotável de uma das mais extraordinárias
personagens da aventura inteletual do século passado português.
D.