A performance art, que partiu da expressão nos limites da arte assiste, hoje, a decadência desse traço definidor. O limite da arte não existe e sua amiga, a crítica, está morta. Em uma profusão de temas impossíveis de mapear, conseguimos, olhando com muita atenção, acreditar que a (boa) performance partilha sempre de um espírito de reflexão. Essa reflexão ocorre no espectador por impacto dos mídia utilizados.
Esse poder e essa amplitude de alcance é testemunha da natureza diletante, aventureira e geek da performance art. Sendo conteúdo de artes que ela contém, a performance acompanha as influências exógenas de cada epóca como nenhuma outra. É crítica e adepta e reage rapidamente. Talvez porque o corpo do artista e o espírito do artista são o artista, e se o espírito do artista sente então o mídia mais reactivo é o corpo do artista.
A performance resultado de uma reflexão sobre a reação do corpo ao impulso do espírito, projetada e arquitetada para que ocorra no espectador é uma expressão de arte pouco original. Mas hoje a performance tem um poder único.
Na democracia da arte, na omnipresença do pop, o impacto e o desafio precisam ser concentrados. Cada obra tem 15 segundos da atenção do espectador. Cada vez mais, apenas a performance, pela riqueza de seus midia, alcança envolver o espectador na reflexão/catarse necessárias à experiência da arte.
No momento em que a arte se quer de banda larga a performance enfrenta suas limitações, a experiência da arte limitada a uma sala é limitada em si mesmo. Será que a sua afirmação como arte de primeira linha, ao acesso de todos e por isso com poder transformador, poderá acontecer de forma mais direta do que vem acontecendo? Será que os mídia da performance são já outras técnicas, que assistem complementarmente o artista, no seguimento do seu trabalho inicial? Da descodificação mais natural e do teste ao espectador o artista parte então para uma amplitude de impacto que apenas outras técnicas alcançam?
Nesse caso cada performance é um momento seminal do próprio processo de criação do artista. Embora um produto acabado em si mesmo, no sentido em que é único, site-specific ou não, a performance liberta impulsos criadores e é por isso a grande fecundadora entre as artes.
Se a disposição de 'todos somos artistas' se alarga, como impedir então que a performance se transforme em um grande programa do Youtube? E será que queremos impedir isso? E será que as outras técnicas artísticas conjugadas com a nova comunicação, o hipermídia, terão efetivo poder de transformação? Como captar a atenção sem grotesco, sem violência, sem espiritualismo?
A.