Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Da Surpresa

Tenho um amigo que muito considero. Exceto no que se refere a cinema. Considero o meu amigo pelas muitas surpresas que ele já me deu.

Eu acho que uma surpresa é sempre relevante, senão não seria surpresa. Não é fácil surpreender-me e cada vez acontece menos. As surpresas têm dicotomias simples - são agradáveis/desagradáveis e preparadas/naturais.

O meu amigo dá-me sempre surpresas agradáveis naturais. Eu acho que o bom mesmo dessas surpresas é a revelação de um para o outro que elas proporcionam. Serem agradáveis e naturais implica atenção e respeito pelo momento presente, e isso é bom.

O meu amigo, no que se refere a cinema, dá-me outras surpresas. Desagradáveis e, suspeito, preparadas. Eu acho mesmo que algumas são só para me irritar. Por isso não me surpreende ver o Elephant em #3 da sua listinha.

A.