Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Pulo à la Paradjanov

Quando se vê uma das muitas obras-primas realizadas nos anos sessenta (como "The Shadows of Forgotten Ancestors", de Sergei Paradjanov) é inevitável fazerem-se comparações com os filmes que se viram na década que agora passou. O cinema não está em decadência, bem entendido. Mas, digam-me: quem, nos dias de hoje, teria a envergadura para apresentar uma abordagem formal tão radical e própria ao relato de uma história de amor do campesinato ucraniano? Talvez, talvez falte à contemporaneidade a pura desinibição para pular, pular como Sergei Paradjanov.


D.