Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Dimachaeri

Ederepente mudaram os rostos e personagens para lá da música. Caetano e Chico nem se pareciam, o Gil esperto, menos zen, com os Mutantes , um Edu Lobo irreconhecível mas já Cais-do-Sodré e uma tal de Marília Medalha, o Roberto Carlos e um outro tal de Sérgio Ricardo.

O poder de uma ditadura afirma-se pela cultura: panem et circenses. Mas na cultura o mainstream existe para ser desafiado, pejorado, atentado. A ditadura autocrática acredita-se sempre meritocrática, e recompensa seus filhos mais dotados. Mérito na esfera cultural é um conceito subjetivo na medida da variância de duas dimensões do consumidor mediano - a sensibilidade e o acesso a informação.

40 anos depois na capital cultural do mesmo país, na abertura de um festival, depois de uma hora inútil de filas, interrogamos e depois assediamos a menina da organização para que ela nos inclua no grupo de eventuais que receberão os bilhetes sobrantes das 25 reservas dos diretores do festival. Por fim, vitória. Entramos no circo. Com fome.

Bom documentário


A.