Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Sobre a pintura de Luísa Jacinto

As suas personagens, bem mais reais do que ideadas, vêm acrescidas de um paradoxo: da possibilidade do impossível. (…) E, todavia, o objecto pintado está aparentemente sereno. E, todavia, todas essas figuras estão ali, estão aqui para uma experiência do impossível e fazem um apelo preciso a aspectos (muito) além da arte: à ética, ao direito, à política, à responsabilidade, à decisão.

Excertos do texto, One Always Fails to Speak of What One Loves, de João Miguel Fernandes Jorge para o catálogo da exposição de Luísa Jacinto, Basta um só dia, Museu Carlos Machado, 2012.

Para J.

Her characters, far more real than idealized, come increased with a paradox: the possibility of the impossible. (…) And yet the painted object is apparently still. And yet all these figures who are there, are here for an experience of the impossible and make a precise appeal to issues (much) beyond art: to ethics, to law, to politics, to responsibility, to decision.

Fiquem a conhecer o trabalho da Luísa Jacinto aqui

D.