Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Desencontros

Fomos de bicicleta até ao Museu Louisiana, situado num vilarejo (Humlaebek) a cerca de 30 km de Copenhaga. À chegada, fomos surpreendidos pela presença de uma longa fila de visitantes, motivados pela realização de um festival de literatura. No anfiteatro fronteiro ao mar, hordas de estrangeiros e autóctones escutavam uma mulher que vim a saber instantes depois tratar-se da lenda indie norte-americana Patti Smith.

Nós estávamos ali por razões bem diversas; a exposição New Nordic, dedicada aos prodígios da arquitectura do welfare state nórdico. Enquanto almoçávamos uma fabulosa sandes de salmão, Patti Smith dizia que, como dissera Walt Whitman, man contains multitudes e que ela continuava ser quem sempre fora em diferentes períodos da sua vida: a criança fascinada pela natureza, a adolescente angustiada, a mulher, a crente etc. Dali a pouco falou da importância da oração, não a um deus particular, mas ao interior de nós mesmos.

Setembro é o mês mais propício para a actividade de relembrar e celebrar a nossa multitude. Que seja bem-vindo.

D.