Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Um ano bom

Contam-se pelos dedos das mãos os posts publicados neste blogue no correr do ano passado. Muita coisa ficou por dizer e que, concluímos agora, só poderia ter sido dita no momento passado. Resta passar em revista os pontos altos de um ano rico de degustação cultural. Se este ano que agora começa for tão generoso quanto o que passou, estaremos bem.

B Fachada, nomeadamente os álbuns homónimos B Fachada (2009) B Fachada (2011) e B Fachada é pra Meninos. Este rapaz tem um grande talento, mas precisa ainda de aprender a entreter bem um público generoso e participativo como é o português.

A descoberta da nova pop portuguesa (Verão Azul, João Coração, Os Golpes, B Fachada etc.)

Os romances de Jonathan Franzen Freedom e The Corrections

As autobiografias de dois historiadores ingleses de esquerda (Eric Hobsbawn e Tony Judt).

Aforismos de Zuräu de Franz Kafka. O único livro sério que tive huevos para ler nos últimos anos.

Os dois épicos de Sergio Leone Aconteceu no Oeste e Aconteceu na América.

The Wire.

The Killing, a sensacional série criminal dinamarquesa.

Solaris, o meu segundo filme de Tarkovski. Visto no BFI Southbank num chuvoso dia de agosto.

O suplemento de fim de semana do Financial Times Life & Arts, com destaque para as colunas sobre cultura assinadas por Peter Aspden.

Um grupo de roqueiras californianas intitulado Warpaint.

O realismo contido das novelas de Richard Yates Easter Parade e Revolutionary Road.

D.