Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Sair da casca

Assim de mansinho escrevo um pequeno texto, uma frase, à maneira de um rato da pradaria que, ao acordar da hibernação, descortina curioso as possibilidades oferecidas pela extensa planície.

Quero registar um protesto. Como no poema do AFA, tenho saudades de ver nas minhas mãos, do barro moldado, as formas a nascer à medida do meu cantar.

Li esta frase há dias:  "Anyway, we'll rub the whole thing off with erasers of love" e, nesse instante, ruiu um edifício de descrença.

Esta noite estive com as formas imorredouras de Le Mépris, de JLG.

Creio, sem excessivo otimismo que, do futuro, nos chegam, porventura enviesados, sinais de tempos extraordinários.

Ainda te lembras do que isto é?

D.