Gosto da coerência dos metrôs desde minhas viagens da Consolação ao Paraíso em que, nesses reflexos oblíquos quase privês, que mais ninguém vê, me enfrentava olhos nos olhos, me obrigava a reconhecer-me, e preparava minhas performances para o analista. Terrível o que lhe aconteceu - espezinhado pelo grupo de terapia infantil num daqueles motins que estalou no Hopi Hari. Parece que o vejo, calado, com aquela sua única expressão de admiração lacaniana, entre um milhão de botinhas ortopédicas...
Neste trem vai mais do que eu, vai uma malta estranha sentada neste assentos azuis. Lá na frente levanta-se uma menina e fala:
- Vou sair em Benfica, entrei no Lumiar, e estou um pouco enjoada hoje. Acho que preciso de alguém que me governe, um pouco de ajuda, compreensão e apreço. Sinto-me só e estou cansada de vocês todos. Uma ajudinha?
E começou a desfilar pelo vagão com o meu chapéu na mão. Ainda pensei dar-lhe uma graninha, mas, no momento mesmo, acabei por me assoar ruidosamente.
A.