Antes do final da plataforma, antecipando um reflexo, adianto-me. Beleza de face simples, seu quê de tristeza, nem arte nem poesia. Um corpo desconhecido do tempo e uma mente atônita. A multidão nas escadas rolantes e a distância entre nós diminui. O mecanismo coloca-lhe os quadris à altura dos meus olhos. Algodão de má qualidade em uma mulher sem perfume. Na saída perco-lhe o rasto.
Reencontro-a nas escadas de acesso à superfície. Meço-lhe a largura das canelas por detrás, na extensão-distensão dos tendões na sequência de degraus cinza. Segue para a direita e o meu caminho se prolonga. Consulto os pontos de referência da avenida e entendo que vou para lá.
Em dois olhares que se cruzam obliquamente nas vitrines observamo-nos de fora. Ela sabe que estou ali há já algum tempo. A dúvida possível não acusa nos passos a minha presença, apenas lhe ajeita a carteira.
No cruzamento encontro o caminho das obrigações da manhã, acelero o passo e antecipo o sinal verde numa diagonal que cruza o trânsito. Chego à avenida do endereço certo e vejo sem me deter o número no edifício em frente. Entro no átrio deserto e falo com o porteiro que me indica o 4º andar. Ao entrar no elevador que me espera ouço a catraca por onde passei. Estou com tempo e interrompo o encerramento das portas do elevador. Reconheço primeiro o movimento das ancas e a largura das canelas, depois o conjunto de algodão. O brilho de dúvida nos olhos.
Estamos lado a lado e recuo um pouco mais do que seria normal para lhe dar espaço. Reparo que não pressionou nenhum botão do elevador.
- Bom dia. Desculpe, você trabalha na A.?
Ela vira o pescoço para me responder, mas não gira o eixo dos ombros.
- Sim.
- O seu nome é Patrícia? Ou Giselle?
- Não. O meu nome é Vanessa. Elas trabalham comigo.
A consciência do reflexo oblíquo ecoa no aço escovado.
A.