Não creio estar a incorrer num ultraje se estimar que a associação de cidadãos romenos a algo de positivo constitui um evento bastante raro, se não mesmo uma aberração estatística. Ganharam fama intramuros pelo desenvolvimento e uso de argutos dispositivos que permitem retirar, sem mossa, moedas dos parquímetros lisboetas e, mais recentemente, após expulsão por decreto da república francesa, colocaram a nu para esse globo ver as periclitantes fundações do edífico comunitário europeu. Porém, apesar de aberrante, esse evento tem vindo a repetir-se, se bem que através de mais baixos sound bites, em razão do sucesso da recente cinematografia romena. Se não estou em erro (improvável), ao contrário do que aconteceu com o novo cinema asiático, as mais importantes películas do chamado novo cinema romeno, tiveram todas estreia comercial em Lisboa e foi-lhes dada a habitual superficial e ingénua atenção no ípsilon (com títulos acabados em pontos de interrogação ou exclamação).
Quem sobreviveu até este período do texto incorre provavelmente na incorreta expetativa de eu ser um entendido do assunto. Trata-se de uma suposição errada, bem entendido. Confesso que, até ontem à noite, se fosse confrontado com um risco na areia e com a necessidade de escolher um lado, a favor ou contra, a atenção crítica dada a este fenómeno, teria hesitado. Porém, depois de ter assitido a Polícia, Adjetivo, de Corneliu Porumboiu, atropelaria sem remorsos elegantes esculturas de areia para me colocar ferozmente dos que favorecem a publicitação deste fenómeno.
A cena abaixo foi uma das mais geniais que tenho visto nos últimos anos. O clímax hiperbólico para uma narrativa minimalista e depurada. Um tratado de humor negro no fio da navalha (como se fosse dito para dentro), articulado numa língua estranha e próxima a um tempo, mas com uma inegável beleza fonética e rítmica. A não perder.
D.