Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.

Enciclopedismo francês

No rescaldo de uma copiosa noite de copos (incluindo uma deliciosa vodca lituana) e antecipando uma viagem de comboio sem leitura adequada, recolhi astutamente na FNAC de Louvain-la-Neuve um exemplar do catálogo de 2008 da colecção Pléiade, pertencente à mais vasta colecção da conceituada editora francesa Gallimard. Todas as empresas enciclopédicas me fascinam, mas a Pléiade tem a marca de água especial do enciclopedismo francês: rigorosíssimo, opulente e denso. Pelo menos foi o que concluí após ter lido, ainda ensonado, este pequeno esclarecimento.

«Tous les livres de la collection sont imprimés en garamond, sur papier bible, reliés en pleine peau dorée à l’or fin. A chaque époque corresponde une couleur: havane pour le xx siècle, vert émeraude pour le xix, bleu pour le xviii, rouge vénitien pour le xvii, corinthe pour le xvi, violet pour le Moyen Âge , vert pour l’Antiquité; les texts sacrés ou de spiritualité sont reliés en cuir gris; les anthologies, en rouge de Chine

D.