Segundo Platão, nos ensinamento de Diotima de Mantinéia, Eros era um demónio, uma entidade entre o humano e o divino, nascido da união entre o engenho (Poros, por sua vez filho de Matiz, sabedoria, inteligência prática) e a pobreza (Penia). Longe de ser um deus todo poderoso era uma força perpetuamente descontente e irrequieta. De entre todas as divindades clássicas é aquela cuja personalidade mais evoluiu entre as mais antigas teogonias e a altura do império romano. Curioso mas natural que a síntese do conceito amor seja tão idiossincrática à cultura e tão volátil ao ponto de Cicero no seu tratado A Natureza dos Deuses falar de três Eros distintos mas simultâneos - Eros filho de Hermes e Afrodite, Anteros (amor recíproco) filho de Ares e Afrodite e Eros alado, filho de Hermes e Artemis. As suas únicas ocupações sérias eram perturbar o coração humano e jogar aos dados com Ganimedes, um pastor por quem Zeus se apaixonou e que era considerado o mais belo dos mortais. Esse desgraçado foi raptado por Zeus ou por Zeus disfarçado de águia ou por Eos do monte Ida e levado para o Olimpo. O pai do rapaz foi compensado ou por um par de cavalos divinos muito bons ou por uma vinha de ouro. A própria águia tornou-se uma constelação. E o rapaz? Bom, o rapaz passou o resto da eternidade como garçon, servindo ora ambrósia ora néctar ora hidromel ao senhor Zeus.
Mais vale ter amor que ser amado.
(Estava com saudades do D.)
A.