Encerramento do mês de vendas. Reunião com todos os vendedores seguida de um churras com os produtos - costelinha suína, linguiça calabresa. Nem um pingo de cerveja.
A reunião inicia com o gerente regional a pedir a todo o mundo que dê as mãos. Levanto-me e ouço. Eu não acredito em fé, mas aceito que tudo é energia. Vamos rezar a oração do Pai que Jesus nos ensinou. E rezo.
Quarta-Feira, em São Paulo
Almoço entre reuniões, com o cliente, no bufete do outro lado da rua. Começo a comer e ouço. Quando eu trabalhava no competidor nós vendíamos a pituitária a 205.000 dólares por tonelada. Eram umas 13.000 cabeças por mês que rendiam uns 60 kilos. O que é que nós estamos fazendo com esse corte, desperdiçando? - Ah, você sabe, não paga não. Desperdiça todo o desmanche da cabeça. - Como assim? É um corte tão simples, pega a cabeça, vira para baixo, centra na guilhotina e zás, corta. Aí pega na pinça, tira a pituítária, e coloca num copinho de água que está lá do lado, com gelo seco. - Mas perde a máscara, o focinho, a mioleira...
Sexta-Feira, no centro de São Paulo
Uma hora de trânsito para chegar ao edifício Itália, entro no teatro, sento para assistir ao Ballet Stagium. Assisto. Uma coreografia de 79 que não tem mais nada para além da então novidade de dança com teatro, uns figurinos da época e uns bailarinos amadores. No final sobe um convidado da coreógrafa septuagenária para dizer umas palavras. Ouço. O Brasil está a perder a sua identidade, nunca como hoje não sabemos quem somos. Já ninguém conhece as belas danças que vocês aqui puderam ver, as expressões culturais do povo. Porque arte e cultura são coisas diferentes. A arte é o que acontece, a cultura é a arte que aconteceu. Levanto-me e saio.
A.