D.
Vários aspectos das suas vidas se associavam à cor azul. Para começar, o fumo denso que, como serpentes, subia dos seus cigarros para o tecto da divisão da casa. Depois, vários indícios foram lentamente emergindo, como bolhas de ar num denso molho em preparação. Primo, a melodia que A. escutava na telefonia. Secundo, o mostrador do relógio de pulso que T. acabava de estrear. Tertio, a face estupefacta de D. Na manhã seguinte as autoridades punham em curso uma nova investigação.
Bigger Trees Near Warter ou Peinture en Plein Air pour l'âge Post-Photographique
De todas as artes a pintura parece-me a mais exigente. Exigente porque requer a educação permanente do olhar e todo o esforço da atenção. Isto numa época histórica em que as forças se congregam para divertir a nossa atenção e cansar o nosso olhar. Estou a pensar muito pessoalmente na horda de turistas que me acompanha nas salas da Tate Britain e que, em vez de procurar ver os quadros, regista-os ordenadamente no arquivo fotográfico do respectivo telemóvel. Eis que, no meio destas aborrecidas considerações com que justificava o meu solitário aborrecimento numa manhã demasiado longa, vi, finalmente, um quadro.